PERMANECER NA LUTA
Parque Oeste (2018), de Fabiana Assis
17 set. 2018
Por Camila Vieira
O longa-metragem Parque Oeste (2018), de Fabiana Assis, é uma ampliação do curta Real Conquista (2017), realizado pela mesma diretora. Os dois documentários resgatam a história de vida de Eronilde Nascimento, líder comunitária em Goiânia, que atuou na luta contra a desocupação violenta do Parque Oeste Industrial, em 2005. Cerca de três mil famílias foram removidas do terreno, que entrava em processo de reintegração de posse a serviço da reurbanização do local. Os moradores foram remanejados para o bairro Real Conquista, onde ainda hoje convivem com o constante cerceamento da polícia.
Sequências do curta são reconfiguradas em uma temporalidade mais dilatada no longa. Acompanhamos as ações cotidianas de Eronilde no bairro: a ida à feira, a caminhada com o filho ao colégio, as conversas de porta em porta com os moradores, as articulações das manifestações em defesa dos direitos da comunidade, a construção de uma biblioteca infantil no seu próprio terreno. Ao dedicar boa parte do filme aos gestos cotidianos solidários de Eronilde, é possível sentir que existe uma identificação da diretora com a personagem, ainda mais com a informação de que ambas possuem a mesma idade, mas guardam trajetórias de vida bem distintas.
Para relembrar a história da desocupação do Parque Oeste Industrial, Fabiana recorre a um rico material de arquivo, com fotografias e plantas do início da urbanização de Goiânia, apresentadas na sequência inicial do filme. Peças publicitárias em VHS são contrapostas a propagandas em digital mais recentes em que fica evidente a construção atual de grandes empreendimentos imobiliários no antigo terreno. Enquanto Eronilde narra sobre os acontecimentos passados, o filme apresenta fotos e vídeos em VHS da comunidade em confronto com a polícia no dia da desocupação. As imagens filmadas pelos próprios moradores assumem a instabilidade de quem segura uma câmera e, ao mesmo tempo, se esconde ou foge para sobreviver diante de um conflito com policiais armados.
Em uma destas cenas filmadas, uma família fecha as portas da casa e todos permanecem deitados ou agachados no chão, enquanto escutam barulhos de tiro. O choro em off de uma criança é presente durante toda a sequência, que termina com a imagem do bebê que é abraçado pela mãe. O posicionamento de Fabiana em dar visibilidade às imagens caseiras da desocupação procura perspectivar os acontecimentos pelo olhar das vítimas, que foram agredidas, que sangraram, que choraram. Muitas morreram, como Pedro, o companheiro de Eronilde, cuja memória é lembrada ao longo do filme.
Ao mesmo tempo em que Parque Oeste busca pensar a história de Goiânia ao mergulhar na pesquisa em torno de um caso violento de desocupação, o filme também se interessa pela participação de outras moradoras, como Celina e Kesya, que lutam cotidianamente por melhores condições de vida da comunidade, junto com Eronilde. O filme engrandece as personagens, que são semelhantes a tantas outras mulheres militantes brasileiras com histórico de luta contra a violência policial e a criminalização dos movimentos sociais.