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APRESENTAÇÃO

Diante dos contextos de estados de exceção, em que as arbitrariedades dos poderes se instauram sobre as populações, as formas de imaginação política são demandadas de modo urgente. Trata-se de conceber práticas de contestação, articular ajuntamentos, traçar frentes de ataque. Na conjuntura política atual brasileira, os sintomas desse estado de exceção se acentuaram em escala ampliada, intensificando ações repressoras históricas, contra as quais têm lutado vários sujeitos sociais, como as populações negras, indígenas, periféricas.

Dentre as ações diante dos cerceamentos de direitos e de liberdades, gostaríamos de pensar, especialmente, as elaborações possíveis do cinema face ao insuportável, ao intolerável, ao não-reconciliável. Como um corpo a mais na sociedade, a imagem cinematográfica disponibiliza recursos expressivos, que alimentam lutas no real, ativam energias políticas e, por diversas maneiras, enfrentam o desafio constante de traçar alianças com as lutas em curso na vida social. Nesse campo de batalha aberto, os filmes variam suas ações diretas – desde o trabalho de disseminação radical no calor dos acontecimentos, para ressoar o grito obstinado contra as histórias oficiais, até o investimento no trabalho da ficção e da própria possibilidade de ler o tempo e intervir no curso das mudanças políticas, pelo trabalho da imaginação. Diante das prisões políticas que assolam nosso presente, dos acordos de bastidores, dos extermínios cotidianos, o cinema pode abrigar e articular a prática de um direito à ficção, que contraria toda ficção emanada dos poderes, para colaborar com as lutas, na invenção de táticas de ocupação das ruas.

A Revista Sobrecinema, com o tema “Cinema e estado de exceção” - primeiro dossiê da nova sessão Quebra de Eixo - , convidou pessoas interessadas a colaborarem com uma reflexão sobre possíveis táticas do cinema nas conjunturas políticas de usurpação de direitos. A proposta é francamente mobilizada pela conjuntura atual vivida no Brasil, mas não restringe as contribuições a este contexto. Pensamos que é possível também convocar exemplos de outras épocas e lugares, para traçar uma rede de esforços que vinculam o cinema à urgência da História. Interessou-nos compor um dossiê que possa acolher diferentes modos de expressão, com textos analíticos que trazem obras audiovisuais e também ensaios com diferentes materiais, a se debruçar sobre as possibilidades da imagem como ato crítico.

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